Recebi uma pergunta via Twitter hoje. Uma pergunta simples, mas que me desmontou emocionalmente. Como costumo dizer, perguntar não ofende, mas a consciência das respostas é que causa o dano. E assim fiquei durante longos minutos, atrapalhando a minha já deficitária concentração no horário de trabalho.
Às vezes nós temos planos pra nossa vida, outras vezes deixamos nos levar. Nos iludimos achando que somos livres. Mas você precisa pisar fora daquilo que a sociedade espera de você para perceber o poder que ela exerce ainda sobre todos nós.
Dando nome aos bois: A cada dia que passa as cobranças por eu não estar fazendo uma faculdade são maiores. Se atuenuam pelo fato de eu estar trabalhando, mas por outro lado pegam pesado nos argumentos de "você é tão inteligente, por que não está fazendo uma faculdade?". Não sei onde as pessoas miram, mas isto me acerta e me dói. A patologia não é tão simples assim.
Me doeu hoje cair na realidade que virá mais um ano onde não vou ter uma solução pra este problema. Passei em segundo lugar na UNIMEP, mas tudo foi uma brincadeira perigosa que fiz comigo mesmo, eu sabia que não teria condições de pagar o curso. Brinquei com meus sentimentos e me machuquei, como se não soubesse que isto fosse acontecer.
Por um lado aparece a minha culpa nisso tudo: Não, este "sonho" não é impossível, eu sei. Nunca antes na história o ensino superior esteve tão acessível. Eu estou me auto-sabotando. Eu tenho medo. Nunca esqueci a psicóloga que cravou na minha mente numa palestra vocacional no ensino médio: "Vão haver pessoas que vão ficar pelo meio do caminho, sempre tem". Contrariando todas as esperanças da minha família, pelo CDF que tiveram, eu fiquei.
Nestes momentos de introspecção e de dor me remetem a entrevista que a Ana Paula Padrão deu para o Vitrine em 2005 falando sobre a estréia do SBT Brasil. Ficou marcado para mim o momento em que a conversa foi para o plano pessoal e a Ana Paula resolveu falar sobre a impossibilidade de ter filhos e de ter abandonado o tratamento para fertilidade. "Esta é uma dor que carrego, a gente tem que aprender a conviver com suas próprias dores".
Quero deixar claro que não quero subverter nenhum ensinamento que eu anteriormente tenha dado. Isto significa que não quero ser culposo e cruel demais comigo. Nestas horas, tudo que eu ainda tento ser é imparcial e impessoal:
Mas é nesta parte que entramos no outro lado deste conflito, no julgamento maciço que todos nós seres humanos passamos. Outros mais outros menos, depende do nível de transgressão que você causa. Nós somos livres para sermos o que quisermos desde que dentro de certos parâmetros, e para eles eu não terei o direito de ser alguém na vida se não passar pelos bancos universitários. Revolucionamos a forma de nos comunicarmos, mas ainda não revolucionamos o modo de pensarmos. E quando achamos que a sociedade se modernizaria e se aperfeiçoaria criaram o Big Brother. Um jogo onde se dá a 170 milhões de brasileiros a chance de analisar e julgar a personalidade diversas pessoas e sentenciá-las uma vez por semana. A nossa ode à intolerância. Afinal, quando iremos evoluir?
Bem, dei a vocês as duas faces da questão. Tenho certeza que ambas tem culpa no meu problema, só não posso dizer em que proporção em que se alternam. E esta questão fica em aberto, tal como ela fica dentro de mim. Mas posso garantir que neste meio tempo não deixarei de tocar a minha vida com tudo que ela me traz de bom. Porque nós podemos conviver com nossas dores e só eu posso me permitir ser feliz.
15 de fevereiro de 2010
Turning point?
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Micael, tudo bem?
ResponderExcluirCheguei ao seu blog por casuais razões, mas fiquei bastante feliz por isto. Adorei sua maneira de expor os fatos, apresentar sentimentos, digamos assim "sua maneira de se explicar".
Li seu texto e a única coisa que tenho a dizer é algo que cultivo dentro de mim como minha filosofia de vida, algo que me faz entender como consegui passar por cima de todas as dores que já surgiram na minha vida e que, agora, ainda aparecem em resquícios, mas que são superadas: a felicidade não é o destino, ela é a jornada, portanto, só seremos felizes quando aceitarmos que estamos fadados a conviver com ela - e, acredite, muitas pessoas não conseguem conviver com esta realidade, por mais que pareça algo óbvio e prazeroso.
Legal você ter citado o exemplo da Ana Paula, porque ela é um pessoa que alcançou seus objetivos carregando uma dor muito grande, e só conseguiu fazê-lo porque aceitou a felicidade, sorriu de volta quando ela lhe sorriu primeiro. Há uma outra frase dela que resume tudo isso que eu disse, e com a qual vou finalizar meu comentário: "Eu não posso querer tudo. Tenho muito mais do que imaginei que teria. Há coisas que a gente não pode ter. Talvez essa seja a minha dor. Paciência".
That's it, beijos!
www.declarando.blogspot.com
Não ficar filosofando aqui sobre o penso das Universidades brasileiras porque acho que você já está cansado de ver falando isso. Para aqueles que me lêem agora, breve resumo: 'pensar que universidade é único caminho na vida é fatalismo. Há inúmeras formas de construir conhecimento e, definitivamente, se enfiar em qualquer uma não é solução pra ninguém'.
ResponderExcluirAgora, uma vez li uma reportagem sobre pessoas que jogam carreiras consolidadas e tudo mais pro alto para recomeçarem. Isso só é possível hoje graças a expectativa de vida atual; jamais sonhada por nossos antepassados.
O fato é que com esse 'tempo a mais' podemos não viver apena uma, mas duas vidas. OLHAAA! Promoção, hein?! Só zoando.
#reflita
ResponderExcluirMicá!
ResponderExcluirAcredito que esta pergunta - se você está fazendo faculdade - é mais um elogio do que uma cobrança. Você é, sim, muito inteligente,e talvez as pessoas que te perguntam isso acham que você poderia aperfeiçoar e explorar o seu potencial numa universidade.
Mas, veja: você já tem a inteligência, o potencial e a vontade. Características que nenhuma faculdade pode fazer nascer em alguém, só lapidar.
E, o mais importante, tem paixão pelo o que faz. Eu admiro isso em você!
Beijão!
fewmiles.blogspot.com