Quem nunca pensou em desistir de tudo é acéfalo. Mas o fato de não ter feito isso é o que te faz vencedor.
Tudo na vida demanda de treino. Não nascemos sabendo sequer andar. Precisamos de um certo tempo engatinhando, se agarrando em paredes e de muitos tombos para entender como driblar com sabedoria a gravidade e se manter sobre duas pernas. Assim tenho aprendido a duras penas a me reinventar, me colocar de novo num mundo que por muito tempo achei que nunca me pertenceria. Era tudo questão de treino.
Meu primeiro desafio concreto foi com certeza a ida para São Paulo na Campus Party. A quantidade de vezes que eu hesitava em ir aumentava a cada dia que se aproximava. Não tive coragem de embarcar para São Paulo de manhã, mas consegui reunir forças à tarde e fui. Passei 2 horas temendo o que seria o desembarque. E realmente não foi muito longe do que eu imaginei em questão de movimentação, mas não houve nada que tranformasse minha vida num inferno.
E assim foi indo para aprender como funcionava o metrô, se perder na saída do Jabaquara, tomar chuva e achar um ponto de táxi. Não foram acertos de primeira, mas não foram erros épicos. Tudo demandou doses de coragem, ou do que pelo menos pra mim significa coragem, nas horas certas.
No final de tudo, saber que mais do que ter "sobrevivido" a tudo isso, ter aprendido tanto, conhecido pessoas que fizeram voltar ao eixo e que até (pasmem) eu ensinei algo, me fez entrar num turbilhão de idéias e emoções. Saber que da mesma forma tudo pode dar errado repetinamente pode dar certo na mesma velocidade. Tudo é repensável, recomeçavel e reciclável, basta a coragem em mãos. Como diz minha vó, "do chão não passa". Não tenha medo de voar se assim achar que seja o caminho.
Naquela madrugada de sábado para domingo arrumando as malas eu até tentei segurar, mas não consegui. Chorei muito, e continuei chorando até pouco antes de dormir. Precisei esperar que tod água rolasse pra perceber que não era um choro do qual a gente é acostumado a ter nas situações dolorosas. Me senti aliviado, zerado, com a sensação de missão cumprida. Dormi imaginando se seria isto que outras pessoas chamam de choro de felicidade.
Sei que ainda passarei por muitas outras provas até estabelecer novos hábitos e novas atitudes na minha vida. Ainda dou muitos passos atrás do que pra frente. Mas se é para manter as nossas idéias e ideais vivo que existem as grandes histórias e as grandes experiências, humildemente quero deixar marcado para mim mesmo que entrei no caminho certo.
28 de fevereiro de 2010
Coragem
23 de fevereiro de 2010
#Twicionário
Porque muitas coisas podem ser melhores descritas em 140 caracteres do que em longos discursos. Tem uma colaboração? Use a tag #twicionario que eu posto aqui :)
FRUSTRAÇÃO: Algo que você não pode ter por mais de algumas horas.
ESPONTANEIDADE: Habilidade só desenvolvida quando você sabe as regras do jogo que está jogando.
VONTADE: Sentimento que na maioria das vezes leva você a fazer o que não deveria.
NOÇÃO: Artigo raro, poucas pessoas tem.
INGRATIDÃO: Investimento em pessoa errada.
22 de fevereiro de 2010
Clave de sol poente
Fim do horário de verão, saí do trabalho começando a escurecer. O contraste da cidade ainda clara com as luzes já se acendendo me inspirou a cantar uma das músicas que mais me remetem a uma atmosfera como esta:
Nessas horas percebo que não preciso de iPod nem gadget nenhum pra me divertir enquanto ando pela rua. Os cenários vão mudando e a trilha sonora acompanha. Passo perto daqule banco de madeira, perdido perto da margem do córrego e me lembro das tantas histórias que ali começaram e acabaram. Me lembro de "Tudo Novo de Novo":
Por conta do caixa rápido nada rápido, o tempo que perdi no supermercado (ouvindo músicas random no sistema de auto-falantes) foi muito bem recompensado pela paisagem que vi ao sair: O entrdecer já se igualava ao nível das luzes dos carros, misturado a promessa de chuva que vinha e ao sol ainda brilhando forte nos bairros mais altos como o Colina. Fiquei algum tempo perplexo, viajando dentro de mim mesmo com tudo isso.
Não tirei nenhuma foto da tal paisagem, e nem pensei que fosse necessário. Buscamos tanto ter aquele momento eternizado sob nosso poder que muitas vezes perdemos a chance de vivê-lo. Mas se você ficou curioso em ver este evento, não se preocupe: Amanhã tem reprise :)
PS: Não pude pensar neste post sem me lembrar de uma música que tem tudo a ver com este momento de beleza, de contemplação e de reflexão. Você pode não ser católico, assim como eu também não sou, mas mesmo assim pode viajar nesta canção do Padre Zezinho sobre o pôr do sol:
18 de fevereiro de 2010
Yin e Yang
Quarta-feira de cinzas, 15 horas. O meu ônibus parou no terminal para receber mais passageiros. Do outro lado da rua, uma cena me chamou a atenção:
Um rapaz cego e outro manco começam a atravessar a rua, um se apoiando no outro. Ao cego, o manco era o guia. Ao manco, o cego era o seu suporte. E assim conseguiram concluir com sucesso sua empreitada em comum, chegar ao outro lado.
A partir desta cena parei para refletir como deveríamos valorizar mais o coletivo, o trabalho em grupo. Ninguém é perfeito, todos temos nossas deficiências, algumas mais visíveis outras não. Mas quando trabalhamos juntos, por um objetivo em comum, estas falhas se tornam irrelevantes. Conseguimos suprir as deficiências mútuas através dos nossos melhores talentos. Talentos que são melhores do que dons, pois unem a nossa aptidão com o nosso esforço e determinação. Assim conseguimos vencer facilmente qualquer batalha diária.
15 de fevereiro de 2010
Turning point?
Recebi uma pergunta via Twitter hoje. Uma pergunta simples, mas que me desmontou emocionalmente. Como costumo dizer, perguntar não ofende, mas a consciência das respostas é que causa o dano. E assim fiquei durante longos minutos, atrapalhando a minha já deficitária concentração no horário de trabalho.
Às vezes nós temos planos pra nossa vida, outras vezes deixamos nos levar. Nos iludimos achando que somos livres. Mas você precisa pisar fora daquilo que a sociedade espera de você para perceber o poder que ela exerce ainda sobre todos nós.
Dando nome aos bois: A cada dia que passa as cobranças por eu não estar fazendo uma faculdade são maiores. Se atuenuam pelo fato de eu estar trabalhando, mas por outro lado pegam pesado nos argumentos de "você é tão inteligente, por que não está fazendo uma faculdade?". Não sei onde as pessoas miram, mas isto me acerta e me dói. A patologia não é tão simples assim.
Me doeu hoje cair na realidade que virá mais um ano onde não vou ter uma solução pra este problema. Passei em segundo lugar na UNIMEP, mas tudo foi uma brincadeira perigosa que fiz comigo mesmo, eu sabia que não teria condições de pagar o curso. Brinquei com meus sentimentos e me machuquei, como se não soubesse que isto fosse acontecer.
Por um lado aparece a minha culpa nisso tudo: Não, este "sonho" não é impossível, eu sei. Nunca antes na história o ensino superior esteve tão acessível. Eu estou me auto-sabotando. Eu tenho medo. Nunca esqueci a psicóloga que cravou na minha mente numa palestra vocacional no ensino médio: "Vão haver pessoas que vão ficar pelo meio do caminho, sempre tem". Contrariando todas as esperanças da minha família, pelo CDF que tiveram, eu fiquei.
Nestes momentos de introspecção e de dor me remetem a entrevista que a Ana Paula Padrão deu para o Vitrine em 2005 falando sobre a estréia do SBT Brasil. Ficou marcado para mim o momento em que a conversa foi para o plano pessoal e a Ana Paula resolveu falar sobre a impossibilidade de ter filhos e de ter abandonado o tratamento para fertilidade. "Esta é uma dor que carrego, a gente tem que aprender a conviver com suas próprias dores".
Quero deixar claro que não quero subverter nenhum ensinamento que eu anteriormente tenha dado. Isto significa que não quero ser culposo e cruel demais comigo. Nestas horas, tudo que eu ainda tento ser é imparcial e impessoal:
Mas é nesta parte que entramos no outro lado deste conflito, no julgamento maciço que todos nós seres humanos passamos. Outros mais outros menos, depende do nível de transgressão que você causa. Nós somos livres para sermos o que quisermos desde que dentro de certos parâmetros, e para eles eu não terei o direito de ser alguém na vida se não passar pelos bancos universitários. Revolucionamos a forma de nos comunicarmos, mas ainda não revolucionamos o modo de pensarmos. E quando achamos que a sociedade se modernizaria e se aperfeiçoaria criaram o Big Brother. Um jogo onde se dá a 170 milhões de brasileiros a chance de analisar e julgar a personalidade diversas pessoas e sentenciá-las uma vez por semana. A nossa ode à intolerância. Afinal, quando iremos evoluir?
Bem, dei a vocês as duas faces da questão. Tenho certeza que ambas tem culpa no meu problema, só não posso dizer em que proporção em que se alternam. E esta questão fica em aberto, tal como ela fica dentro de mim. Mas posso garantir que neste meio tempo não deixarei de tocar a minha vida com tudo que ela me traz de bom. Porque nós podemos conviver com nossas dores e só eu posso me permitir ser feliz.
8 de fevereiro de 2010
Porque eu fiz o que fiz
Contar sua própria história é a melhor forma de entendê-la melhor, pois a nossa cabeça é hipertextual, mas o texto não. Um texto deve ser linear como a vida analógica também é. Tenho atravessado uma fase de diversas revoluções, opções e dúvidas e não existe nada melhor do que entender sua própria história para se entender melhor. Esta é, portanto, uma breve explicação de como vim parar no mundo da comunicação.
A primeira forte lembrança que eu e minha família temos é da época da pré-escola. As professoras não entendiam porque enquanto as outras crianças desenhavam casas ou carros eu insistia sempre em desenhar o rack da sala com a TV, o videocassete, o aparelho de som, as caixas...
Mas aí veio a escola, os problemas de relacionamento e o computador. E tudo para a minha família já parecia traçado: Vai fazer exatas, ciência da computação, um cientista.
Mas eu tinha em casa uma mãe que é professora e muitos livros. Li muito, acompanhei ela em várias aulas, vendo como era a luta diária dela na missão de transmitir conhecimento, passar a mensagem. E essa ciência ia me intrigando.
Da biblioteca da minha mãe vieram lições fundamentais. Como o livro "Alicerce para um mundo novo", escrito nos anos 70 pelo Pe. Zezinho. Um dos seus capítulos trata das questões referentes aos meios de comunicação:
Se um dia puder ligar-se aos meios de comunicação, guarde este conselho: "Você será responsável diante de si mesmo, diante de Deus, diante do país e do futuro, de cada palavra vazia ou negativa que emitir. Diante de uma câmera, ou de um teclado, ou ainda frente a um público você será um educador, ou não terá direito de falar a tanta gente." Reflita seriamente em tudo isso.
Meios de comunicação, um sonho muito distante mas que continuavam me fascinando. Mas das brincadeiras de imitar programas de TV iam ficando cada vez mais sérias por causa do pastor da igreja que eu frequentava. Ele era videomaker inveterado. Sem recursos, porém persistente, assim como eu. Logo estávamos juntado forças fazendo curtas-metragem de edição precária e passando horas analisando e comentando tudo sobre televisão.
Conforme o negócio foi se profissionalizando e crescendo comecei a ganhar meu próprio dinheiro e aprender mais lições sobre o ofício. Dentre tantas conversas deste período, outra frase ficou pra sempre na minha memória:
A realidade é que as pessoas são influenciáveis mesmo, infelizmente. O que devemos saber é como influencia-las positivamente e o fazer.
Influência e responsabilidade, duas palavras que me perseguiram essa trajetória inteira, da qual eu mal sabia onde ia dar. Vim parar num mundo mundo diferente do qual imaginei ou esperei, mas estou muito longe de estar decepcionado. Tive oportunidades que nem nos meus sonhos mais otimistas eu poderia ter. Mas nunca esqueci e quero nunca esquecer destas duas palavras que me nortearam até aqui, por mais incompleto que ainda esteja o caminho.
Por tudo isso sempre que se debate qual seria a diferença entre um blogueiro e um jornalista me sinto seguro em dizer que o papel de jornalista surge quando a responsabilidade com o que você vai dizer é maior do que seus próprios interesses pessoais ou comerciais. Saber da capacidade que as pessoas tem de acreditar no que você disser e isto for de alguma forma construtivo na vida delas, e poder dormir tranquilo sabendo que a verdade foi colocada em primeiro lugar.
E foi assim que eu cheguei até aqui.
Para continuar navegando sobre o assunto:
- 5 coisas que aprendi sobre TV
Texto meu como convidado no blog Memórias Fracas sobre a lições de convivência e trabalho em equipe que tive dentro dos meus 2 anos de televisão.
- Por que jornalismo? #1
Um relato pessoal sobre como uma decisão é feita de muitos fatores.
6 de fevereiro de 2010
Rádio com legendas
Argumentei, meio de brincadeira, meio por impulso, com o Thiago que o Twitter é como o rádio, por conta da sua audiência rotativa. Só que nos minutos seguintes a ideia foi se aprofundando e fazendo mais sentido. O Twitter é sim uma espécie de rádio moderno, pelo seu formato em si.
Sua capacidade de ser broadcast e "narrow cast" dentro do mesmo espaço nasceu com o seu formato. O Twitter é o blog que contém os posts e os comentários dentro da mesmo nível hierárquico
Mudanças posteriores no serviço acabaram por lapidar a ferramenta: A mudança que tornou visível replies na timeline apenas para pessoas que você também segue formou um novo nível de comunicação: Se antes todos seus seguidores liam as conversas agora elas só dizem respeito as pessioas que tem contatos e por consequência interesses em comum. Formam-se pequenos círculos onde pessoas conversam e relacionam intimidades tal como ela acontecia (unilateralmente, por limitação técnica) como a conversa ao pé do rádio.
Outra caraterística radiofônica do Twitter é que as pessoas leem a timeline em diferentes horários e raramente usam ou conseguem usar algum artifício para capturar o conteúdo que foi postado durante sua ausência. Por conta disso vários twitteiros atualmente postam o mesmo conteúdo em horários diferentes para tentar alcançar todos estes públicos. É a forma para se lidar com a audiência rotativa.
Talvez seja este o segredo de sucesso do Twitter. Se o formato do rádio continua tão atual e tão vivo dentro do século XXI, alguma outra ferramenta precisava usar o seu know how e seu método de trabalho. Assim continuamos fluindo neste século de comunicação, entre recados no ar e tweets frenéticos.
[A imagem que ilustra este post é um projeto bem interessante criado em Portugal de um rádio Wi-Fi criado a partir de um roteador comum. E é open-source. Vale a pena explorar.]
4 de fevereiro de 2010
Crossing media
Encerrando o assunto Campus Party aqui no blog, dei uma entrevista pro Jonatas no blog dele, o Mixpoint dando ma geral sobre o assunto. Aos interessados fica a dica.